Na rua o frio começa a cortar.
Há muito movimento, toda a gente foge.
Fogem em direcção a casa, ao quentinho, ao aconchego. (Até já me começa a cheirar à quadra natalícia.)
Há quase uma hora que as cadeiras nos cafés repousam e pernas para o ar em cima das mesas, e rios de água empurrados a esfregona, desembocam nos passeios.
Na porta dos estabelecimentos, vão aumentando as tabuletas dizendo “Encerrado”.
São dezoito horas de uma sexta-feira, e na baixa pombalina já só restam os pombos!
Eu atravesso devagar aquele bairro, no sentido contrário do resto do mundo..., eu moro para os lados da Sé, no fim dos fins da baixa!
Eu vou para casa, “eles” vão para o lar...
Eu vou fechar-me no meu espaço vazio, “eles” vão para junto das suas famílias!
Entro em casa e vem logo o vício de ir buscar o pivot da televisão para companhia, uma voz que corte o silêncio.
E a ilusão de que com o gesto mágico e carregar no botão do aparelho, o mundo me enche a sala.
Tem que haver uma primeira para se engarrafarem todos na segunda!).
Vou para o quarto, sento-me ao computador, procuro os emails ( a angustia pergunta: quem comunicou?). Há imensos impessoais, daqueles que se encaminham mecanicamente para todos os contactos. Extraídos de frases dos livros de Paulo Coelho e outros sucedâneos, todos de temática “auto ajuda”. Há uma excepção, a de um convite para fazer um “workshop” de “souflés”, no hotel não sei quê..., não reparei bem, mas tinha no me de sabonete, três dias, preço 300 euros, por acaso reparei!
Não, não quero ler nada!
Abro uma página em branco, começo por escrever SOLIDÃO....
E deixei de me sentir só.
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