quinta-feira, fevereiro 10, 2011

PARADA GAY

Há um aglomerado de gente na Praça Camões. Estão-se juntando manifestantes para a «parada gay». Forma-se uma miscelânea de gente; Travestis extravagantes em fatos de noite de lantejoulas, com baton garrido e pestanas postiças. Homossexuais “cool”, de fato e gravata, com ar “ bem arrumado”. Outros mais expansivos de roupa “fashion”. Lésbicas de saias indianas e sandálias de couro, look “Woodstock”, provocatoriamente trocando carinhos Outras bem mais modestas, de pernas gordas apertadas em jeans deformados e camisas largueironas. Misturam-se com voyeurs que passam no Chiado e se aproximam para ver aquela “fauna”.
Mas a festa começa a ficar mais colorida, quando inesperadamente, surge um grupo de velhas prostitutas do Bairro Alto, ( a mais nova tinha uns cinquenta anos), vistosas, mini saias de ganga, cabelos permanentados, tricolores entre o preto, amarelo e branco. O que queriam, era mesmo gozar com os manifestantes, e batendo nas nádegas e no peito, gritavam para os transeuntes: «Oh filhos, deixai-vos destas modernices, nós ainda estamos boas como o milho, para que servem estes palhaços!?». E vá de levantar as saias e abrirem os decotes das blusas. Os homossexuais eram gozados, mas não hostilmente, agora as lésbicas, ouviam insultos e dos grandes. Estas, indignadas por lhes cortarem a dignidade da manifestação, chamaram a polícia.
A Tekas, de longos cabelos loiros, roupa muito justa, parecendo mais um réplica da Barbie,( neste caso com cinquenta tal anos), do que uma mulher de carne e osso, saía de uma boutique de multi-marcas ali na praça. Fica espantada com toda aquela cena. Feridos nos seus valores morais, indigna-se com o teor da manifestação, e põem-se ao lado das velhas, apoiando os seus protestos galhofeiros.
Mas quando a policia rodeia o grupos das prostitutas e as mete na carrinha, não percebeu que a Tekas era loira de madeixas feitas num bom cabeleireiro, não amarela oxigenada de raiz branca, e que a mala era do Dolce e Gabana e as botas do Gucci e as calças do Armani. Enfiam-na no banco de trás junto com as outras, rumo á esquadra da Praça da Alegria.
Já lá dentro, o grupo do Bairro, sempre na galhofando, «Oh filha, isto prá gente é como comer tremoços», foi-se identificando, até chegar a vez da Tekas.
Um polícia hesitante lê alto: «Maria Teresa Cacona …». Gargalhada geral, o mulherio fica delirante. «A senhora por favor confirme, chama-se Maria Teresa Cacona Rodriguez?».Os policias disfarçavam o riso com esforço enquanto reprimiam as mulheres que gritavam grosserias. A Tekas, de cabeça bem erguida, com ar altivo e digno, diz: « Sim, chamo-ma Maria Teresa Cacona Rodriguez. Sou Cacona do meu pai, de quem tenho muito orgulho, foi um grande empresário na Venezuela, e a minha mãe era finíssima, descendia do rei duma tribo índia». Neste momento as gargalhadas transformaram-se em gritos. Os polícias deixaram de se conter e riam descaradamente. «Vocês não percebem nada do meu estatuto social, são completamente ignorantes! Mas se vissem as revistas saberiam quem era a Tekas. Foi a quinta mais vestida do país na revista “CARAS”. Sou Rodriguez do meu ex marido, que pertencia á nobreza espanhola. E não estou para estar para aqui a ser enxovalhada por esta gentinha! Eu sou uma grande empresária, com lojas de grandes marcas de moda por todo o país. Não sabem mesmo quem estão a falar! Que loucura, só neste terra miserável é que isto pode acontecer a uma senhora! Mas eu vou sair imediatamente daqui». (pega no telemóvel). «Tá, Nunu, estou na policia…não, não houve desastre nenhum, filha, o que houve foi um ataque de estupidez duns policias, eu já te conto..., só te digo que estou aqui enfiada com umas de mulherezinhas da rua, mas isto não fica assim….Sei lá, se calhar porque eu estou arranjada para ir com vocês á estreia do Politeama logo á noite, e sei lá o que estes ignorantes pensaram… se é que pensam! O teu chauffeur que venha buscar-me á esquadra da Praça da Alegria, depressa, por favor, acho que me vai dar um ataque não sei de quê…, de raiva…, Tá minha linda, até já.»
Virando-se para os agentes: « não tenho mais nada a dizer, mas podem crer que isto vos vai sair muito caro». Cruza a perna, e chocalhando as imensas argolas doiradas da mala, tira uma “Hola!”, com baronesa Von Thyssen na capa, e diz: «Vou esperar o meu chauffeur, não me macem».